quarta-feira, 16 de julho de 2008

Indelével Sob a Crevasse (pronto, subi, avisa depois de usar)













São conhecidos vários crimes de guerra ao longo da história da humanidade. As fontes vão desde a literatura das civilizações clássicas, idade medieval, até o holocausto, ou mesmo a cobertura em tempo real das tropas americanas no Iraque e o blog de soldados americanos na Internet. No entanto, entre Dionísio de Siracusa, Hideyoshi Toyotomi e George Bush, alguns massacres se mantêm pouco falados se levada em consideração a forma como comprovam a incrível capacidade humana de ferir e subjugar um semelhante.

O massacre de Nanjing – “Nanking” numa outra grafia possível – pelos soldados japoneses é um destes casos que, além de envolto em polêmica, continua fidedigno à marca d’água do controle intelectual do governo japonês aplicado à forma como as gerações mais recentes costumam receber informações históricas do seu próprio povo.

No Japão há um órgão governamental que poderia ser livremente traduzido como “Sociedade em prol da Reforma de Livros de História”, já conhecido no rol das discussões diplomáticas por polêmicas quanto à omissão ou abrandamento dos feitos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial e em épocas anteriores. Abertamente conservadora, a organização é responsável por inúmeros levantes de chineses e coreanos contra eufemismos a exemplo do termo “comfort women” ( do japonês “ianfu” ) para o que seria, na verdade, a designação de milhares de mulheres transformadas em prostitutas de guerra – estimativas de órgãos como o Institute for Corean-American Studies falam em números entre 50 a 200 mil mulheres – a maioria composta por coreanas, muitas chinesas e algumas japonesas, entregues a oficiais nipônicos para cruel recreamento sexual.

O governo japonês costuma sempre recuar nos discursos quando cobrados por seus crimes de guerra ao longo da história contra a China e a Coréia – sem contar invasões às Filipinas e outros territórios anexados –, mas nunca declarou oficialmente um pedido de desculpas formal, como é típico da cultura do leste asiático. Desta forma, chineses procuram deixar clara a revolta por uma praticamente não menção ao massacre de Nanjing, cheio de semelhanças fáceis às perversidades do holocausto. Nem também estariam as vítimas dispostas a esquecerem com o passar do tempo.

Nanjing, cortada pelo majestoso Rio Amarelo Yang-tzé e situada no leste da China, durante a resistência anti-japonesa, após a tomada de Xangai, teve seu território invadido do final de 1937 ao início de 1938. Alvos não-militares não foram poupados dos bombardeamentos da esquadrilha do Sol Nascente, caindo pelo poder de fogo de algo em torno de 500 bombas que atingiram inclusive prédios da Cruz Vermelha. Ainda que homens do governo chinês tenham conseguido fugir, civis ficaram para trás e sentiram na pele o cruel massacre típico aos prisioneiros de guerra que caem nas mãos de japoneses.

Trinta garotas foram levadas da Escola de Línguas na noite passada e o que hoje ouço são inúmeras histórias de partir o coração sobre garotas tiradas de seus lares ontem à noite – uma delas tinha não mais do que 12 anos...

... Hoje passou um caminhão por onde havia de oito a dez garotas que não cessavam de gritar Guing ming! Guing ming!’: ‘Salve nossas vidas.” (Diário de Minnie Vautrin – 16-12-1937)

Aquém das pilhagens, saques e incêndios a construções civis, marcou-se perenemente a crueldade das torturas japonesas inclusive a crianças, todo tipo de humilhações traumáticas e, principalmente, a ensandecida orgia de estupros por parte dos soldados invasores.

É uma história horrível de se relatar; não sei por onde começar nem por onde terminar. Nunca tinha ouvido ou lido sobre tamanha brutalidade. Estupro, estupro, estupro! Estimamos pelo menos mil casos numa única noite além dos vários acontecidos durante o dia. Onde há resistência ou qualquer sinal de desaprovação, vê-se enfiada baioneta ou uma bala. (Carta de James McCallum a sua família- 19/12/1937)

“No dia 16 de Dezembro eu saí às ruas e fumaça e fogo ainda não tinham se extinguido. O número de corpos de meus compatriotas era terrivelmente imenso, especialmente de mulheres... a cada dez, oito tinham os abdomens abertos e tripas reviradas. Muitas mães expostas morreram junto com seus fetos cobertos por sangue... os seios dos corpos femininos tinham sido ou cortados fora ou esfaqueados numa mistura de carne e sangue...” ( Relato de um chinês mantido como cozinheiro pelos japoneses )

As autoridades de Nanjing, perante o ataque, haviam fugido deixando para trás civis os quais, durante o massacre, ainda tentavam escapar para serem assassinados junto aos muros da cidade. Vários corpos foram encontrados junto aos portões de Xin Zhong, pelas estradas de YangPi, Gu YiDian, etc.

Os estupros nunca foram censurados pelos oficiais japoneses, ao contrário, há uma tradicional história de incentivo por parte dos comandantes quase como uma espécie de “tática” militar para satisfazer, aplacar e mesmo manter maior controle sobre os soldados, acalmando-lhes os ânimos ou simplesmente gratificando-lhes com espólios humanos de guerra. Muitos destes crimes chegaram a ser testemunhados por estrangeiros como provam os relatos oficiais do Comitê Internacional de Nanjing:

Tarde do dia 4 de Dezembro; soldados japoneses invadiram uma casa na rua Jian Yin, capturaram quatro garotas e a estupraram por duas horas.

Noite do dia 15 de Dezembro; um grande número de soldados japoneses invadiram o dormitório da Universidade de Jingling, estupraram mais de trinta mulheres, muitas por grupos com mais de seis homens ao mesmo tempo.

16 de Dezembro; soldados japoneses capturaram sete garotas da Universidade de Infantaria entre dezesseis e vinte e um anos. Cinco foram libertadas e de acordo com o relatório do dia 18, elas foram estupradas por mais de seis vezes ao dia.



No final de Fevereiro, uma família de refugiados, catorze pessoas ao total, foram mortas. A mais nova tinha apenas 14 anos e morreu sobre duas mesas quadradas, a parte superior do corpo vestida, e a de baixo despida, coberta de sangue, esfaqueada. Da mesma maneira haviam matado uma mais moça mais velha. A mãe morreu com um bebê de um ano em seus braços. O bebê também foi esfaqueado, intestinos para fora do corpo, algo horrível demais para se olhar.”

Os números da violência sexual podem ter facilmente ultrapassado os cinqüenta mil casos segundo alguns historiadores, atingindo desde crianças em torno dos sete anos de idade até as mulheres mais velhas encontradas pela frente. Geralmente a performance desumana se dava em público e os requintes de crueldade contidos eram fatores imprescindíveis: na frente dos familiares, incestos forçados entre pais e filhas, filhos e mães; vários homens por várias horas atacando uma única vítima; vítimas obrigadas a fazerem sexo com cadáveres; monges que declaravam vida celibatária eram obrigados a estuprar mulheres para simples deleite dos soldados. As mutilações também estavam presentes, famosa marca dos japoneses na guerra sempre portando suas inseparáveis espadas. Quase sempre assassinadas após o estupro, mulheres tinham os seios decepados a cortes capazes de expor suas costelas, sofriam tentativas de empalações por órgãos sexuais com espadas de madeira, e inúmeras outras recebiam facas enfiadas nos órgãos sexuais adentro para serem deixadas em agonia, gritando desesperadamente numa sinfonia macabra que se repetia interminavelmente em toda a Najing.

Há relatos de bizarros casos de morte por traumas com pedaços de pau, flautas (REED PIPE), e até cenouras enfiadas nas vítimas. Tudo parecia instrumento válido para a diversão dos soldados japoneses que assistiam às torturas enquanto batiam palmas, gargalhavam e encorajavam a cena.

Grande parte dos relatos hoje conhecidos provém dos poucos civis que conseguiram escapar como mulheres capturadas e mantidas vivas para servirem como Ianfu ou dos arquivos do Kuomitang (Partido Nacionalista chinês em Taiwan).








Em outra ocasião, vários soldados invadiram uma loja e capturaram um jovem, forçaram-lhe a tirar as roupas, banharam-no desde a cabeça com ácido nítrico fazendo com que seu corpo corroesse lentamente; centenas de prisioneiros de guerra tiveram as órbitas oculares arrancadas assim como as orelhas e nariz antes de serem queimados vivos; uma senhora de meia-idade foi estuprada por vários homens e estes, ao perceberem que a vítima encontrava-se grávida, abriram-lhe o ventre a fim de retirar o feto com o qual fizeram de brinquedo no meio das ruas. Ao avistarem um superior, balançaram o feto preso a suas baionetas sendo recebidos com um sorriso por parte do oficial; aos resistentes do Kuomitang, refugiados e policiais chineses ao redor da cidade – em YuHuaTai ou fora dos portões de HanXi – restaram malfadados destinos como serem queimados vivos embebidos em querosene.

Após o massacre, não só a entrada de veículos era difícil de se completar devido ao sem-número de corpos espalhados pela cidade, mas até mesmo conseguir andar se tornara uma façanha. Os japoneses tiveram de pedir ajuda a comitês internacionais para se livrarem dos cadáveres. À época, o governo precisou admitir os saques, pilhagens, torturas e assassinatos e oito alto-oficiais foram chamados de volta ao Japão, porém, não há registro de punição alguma. Organizações humanitárias participaram da queima e tentativa de saneamento, quando então contabilizaram as centenas de milhares de vítimas, embora nem a cremação pudera dar conta de todos os corpos.

Apesar da impossibilidade dos números do massacre serem contabilizados de forma exata, a polêmica não se detém só a cifras. Os primeiros a reportarem ao resto do mundo as atrocidades do massacre de Nanjing foram estrangeiros residentes na área segura da cidade e, apesar da tentativa de censura do governo japonês, relatos de jornalistas americanos chegaram ao ocidente, existindo até mesmo filmes que expõem os vestígios da carnificina. Oficialmente, o Japão nega ou se abstém de comentar o massacre, taxando de revisionismo a menção a Nanjing ou de “exageros fantásticos” os relatos da crueldade dos soldados nipônicos. Ainda hoje é possível encontrar tumbas públicas de “heróis” que participaram do ataque a territórios chineses enquanto o que houve em Nanjing é omitido da maioria dos livros históricos nas escolas japonesas ou, ainda, o “incidente” é tido pelo governo japonês como um jogo político americano para incitar o sentimento anti-japonês no mundo ocidental, também numa tentativa de justificar mais tarde a bomba atômica, pois, de certa forma, as retaliações à crueldade japonesa durante a guerra que começava a ser conhecida pelo resto do mundo levaram ao ataque à embarcação de guerra americana “Panay”, no famoso “Caso Panay”, marcando o início da quebra diplomática entre Estados Unidos e Japão, culminando mais tarde no ataque a Pearl Harbor.



O tema de Nanjing chegou a ser evitado e até censurado pelo próprio governo da China após uma reaproximação estratégica com o Japão, legado dos esforços do Mão-Tsé Tung vencedor sobre o Kuomitang após a guerra civil chinesa. A partir daí, ocorrem subseqüentes reaparecimentos e tentativas de censuras da discussão: na década de 70, o jornalista do
Asahi Shinbun
, Katsuichi Honda, menciona o jogo desumano entre dois sub-tenentes, Toshiaki Mukai e Tsuyoshi Noda que, durante o massacre, competiram entre si para descobrir quem primeiro assassinaria 100 chineses com a espada; em 1982, o Ministro da Educação censurou qualquer menção a Nanjing nos livros escolares, medida esta que estaria justificada, segundo ele, por ser o massacre um evento histórico ainda não totalmente esclarecido; em Outubro de 2004, a revista em quadrinhos japonesa “Kuni Ga Moeru” (não publicado no Brasil, mas traduzido seria algo como “O País Está em Chamas”) foi censurada e retirada de circulação por fazer referência ao massacre ao usar uma foto em que evidenciava claramente os uniformes japoneses. O argumento dos responsáveis pela censura se baseavam, segundo os mesmos, na falta de provas quanto a sequer ter realmente existido o massacre.


Cartaz mencionando o concurso para saber qual dos dois subtenentes mataria 100 chineses primeiro usando a espada













- Henrique Silva -

Referência para as citações:

CHANG, Iris The Rape of Nanking, Ed Penguin USA


5 comentários:

Anônimo disse...

Não me surpreendeu tu meter o pau em Camdessus, falar na crise da Ásia nem explicar Lacan pro meu marido(até citou o Gatian de Clérambault!). Até porque isso eu também faria - talvez não com a sua eloqüência ao discutir comigo sobre o Geisel... quase me convenceu!

O que me surpreendeu foi, depois disso tudo, te ver tirando a gravata carésima, dobrar a calça mal abanhada (precisas duma mulher, meu caro!), sentar no meio-fio com o violão e tocar "Crazy Mary".

Um troço tão juvenil, tão bobo. Me surpreendi.

Não que eu goste do Pearl Jam, desculpe a decepção, honey. Mas tu não tinha vergonha de cantar alto, de olho fechado. Não acreditei que segundo cara mais inteligente que já conheci, tem tanta dor e é rockeiro! rsrsrs

Não faz nada daquilo nem se maltrate tanto.

Obrigado por me deixar usar o seu texto e ficar comigo até tão tarde ajudando com os termos. O outro, da arte chinesa, não consigo ler agora. Acho que tu também não devia mergulhar tanto nisso usando músicas tristes para subterfúgio. É usar uma dor para descansar de outra.

Todos nós torcemos por tu, hein?!

Boa sorte com aquela menina sobre quem não quisesse falar. Nem adianta disfarçar! Primeira vez que te vejo assim, bobo...

é bom que ela leia isso aqui

ihihihihih

Se eu passar... aliás, QUANDO eu passar, comemoramos juntos com o Júlio que é pra ele não ficar com ciúmes! Leve sua "Menina-Cometa!" (tããão lindo o seu jeito-sem-jeito de começar e não terminar de falar dela!)

Sua amiga e em breve DOUTORA,

J.J. Sant'anna

Taciana disse...

o radar é antigo..
só n eh mt usado..

=*

Corsário Satã disse...

Gostei da proposta.

Se esquecer é perdoar, precisamos deixar de ter memória curta.

Denise Pierrotti disse...

Quanta dor...

A humanidade é cruel, sempre o foi... será que as coisas estão melhorando?

Estariamos nos humanizando ou desumanizando?

... mas tenho certeza que vc é bom hehehehehe
amutu

Anônimo disse...

Seu texto, desculpe-me , é parcial. Relatar fatos históricos aprofundando-se em apenas um lado da história dificilmente será acolhida com veracidade. A história é contada pelos vencedores. Mas qual história?

Acreditar que houve todo esse excesso em Nanquim (Nanking ou Nanjing) é pedir para acreditar também no extermínio de 6 milhões de judeus. Houve, sim, mortes, mas não da forma que nos contam, ou repetem, como se fosse uma lavagem cerebral.


Abster-me-ei de extensivos comentários. Apenas torço para que o revisionismo histórico não perca sua força. Para muitos, é muito mais fácil e cômodo reproduzir o que já foi publicado, independentemente de sua autenticidade. Alterar alguns fatos da história não é bem aceito, pois há vários intere$$es sobrespostos à verdade.

Quanto às fotos - estas mostradas e outras do "hocausto" já foram verificadas como montagens. Aquela foto em que Hitler está em pé, sorrindo, com as mãos juntas ao lado de um outro homem e, em volta deles, vários corpos de judeus assassinados, é tão verdadeira quanto uma nota de R$3,00.

O Brasil tem o seu passado obscuro também, não somente na ditadura. Na verdade, as notícias veiculadas pela grande mídia são manipuladas para que não pensemos. Quem será que vai ganhar o BBB?

Ainda bem que a Internet é um território livre e sem censura. Por enquanto.